quinta-feira, 14 de junho de 2012

Conceito de Surdez

 
                                                         Concepções de Surdez
Pelo que pudemos perceber com as leituras e as discussões realizadas até agora, as diferenças existentes entre os conceitos de surdez estão na forma como nos relacionamos com essa deficiência.
O primeiro texto trabalha com conceitos de natureza clínica e biológica e trata a surdez na sua manifestação física, mais precisamente sensorial. Sabemos que é importante termos as informações clínicas, patológicas, mas essas informações não serão tão valiosas para atuarmos frente as inadaptações do aluno surdo à escola.
Esses conhecimentos servem para podermos pensar a prática pedagógica de uma forma que atenda melhor a clientela para a qual trabalhamos, que são os alunos surdos. Ora, precisamos entender que mesmo a surdez leve e unilateral precisa ser considerada e as necessidades diárias dos alunos frente às dificuldades de aprendizagem em função da ausência da audição precisam ser cuidadas para criarmos estratégias que favoreças a participação do aluno surda à sala de aula comum e assim reforçar a sua aprendizagem de forma plena através da minimização de seus insucessos.
Segundo os textos estudados percebe-se que os Estudos Surdos se lançam na luta contra a interpretação da surdez como deficiência, contra a visão da pessoa surda enquanto indivíduo deficiente, doente e sofredor, e, contra a definição da surdez enquanto experiência de uma falta. O mais importante não é frisar a atenção sobre a falta/deficiência da audição - os surdos se definem de forma cultural e lingüística (Wrigley, 1996, p. 12).
Ainda de acordo ao texto vivenciamos um momento de redefinição deste conceito (Behares, 2000?, p. 1). Historicamente se sabe que a tradição médico-terapêutica influenciou a definição da surdez a partir do déficit auditivo e da classificação da surdez (leve, profunda, congênita, pré-lingüística, etc.), mas deixou de incluir a experiência da surdez e de considerar os contextos psicossociais e culturais nos quais a pessoa surda se desenvolve; é justamente destes aspectos, dentre outros, que os Estudos Surdos passam a se ocupar.
O termo “surdo” é definido pelas pessoas que não ouvem referem-se a si mesmos e a seus pares, ou seja uma pessoa surda que vivencia um déficit de audição que o impede de adquirir, de maneira natural, a língua oral/auditiva usada pela comunidade e que constrói sua identidade baseada principalmente nesta diferença, utilizando-se de estratégias cognitivas e de manifestações comportamentais e culturais diferentes da maioria ouvintes.
Nos estudos Surdos não se utiliza a expressão “deficiente auditivo” numa tentativa de re-situar o conceito de surdez, visto que esta expressão é a utilizada, com preferência, no contexto médico-clínico, enquanto que o termo “surdo” está mais afeito ao marco sócio-cultural da surdez. Nestes Estudos se enfatiza a diferença, e não a deficiência, porque “cremos que é nela que se baseia a essência psicossocial da surdez: ele (o surdo) não é diferente unicamente porque não ouve, mas porque desenvolve potencialidades psicoculturais diferentes das dos ouvintes” ((Behares, 2000?, p. 2). Ora, a distinção entre surdos e ouvintes envolve mais que uma questão de audiologia, é uma questão de significado: os conflitos e diferenças que surgem referem-se a formas de ser.
É notório que para o ouvinte, a surdez representa perda de comunicação, exclusão, banimento, solidão, isolamento. Para os surdos a explicação é totalmente diferente: alegar uma surdez de nascença significa não estar “contaminado” pelo mundo dos ouvintes e suas limitações epistemológicas de som seqüencial” (1996, p. 39).
Wrigley traz uma figura interessante quando diz: “a surdez é um ‘país’ sem um ‘lugar próprio’. É uma cidadania sem uma origem geográfica” (1996, p. 12).
As pessoas surdas são vistas como um grupo físico diferente, isto é, como se fosse uma raça diferente, ou seja, elas se tornam racializadas através da língua – de sinais – diferente aos demais de seu contexto social.

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