quinta-feira, 11 de outubro de 2012

AEE - Deficência Intelectual

 
Deficiência Intelectual

Deficiência Intelectual é o estado de redução notável do funcionamento intelectual associado a pelo menos dois aspectos do funcionamento adaptativo ou a capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade em comunicação, cuidados pessoais, autonomia, aptidões escolares, lazer e trabalho. (DSM – IV)
                                      O aluno com Deficiência Intelectual
É um sujeito capaz de crescimento e de afirmação;
Apresenta capacidades cognitivas;
Sua inteligência deve ser estimulada para evoluir;
As intervenções educativas devem ser destinadas a favorecer o desenvolvimento de suas estruturas intelectuais;
                                        O AEE para o aluno com deficiência intelectual

Se realiza essencialmente na Sala de Recursos Multifuncionais ( S R M ).
Desenvolve ações específicas sobre os mecanismos de aprendizagem;
Propõe atividades que contribuam para a aprendizagem de conceitos;
Se fundamenta em situações-problema;
Colabora para atuação do aluno no ambiente escolar e fora dele (Autonomia);
                                         Funções do professor de AEE
Desenvolver a gestão dos processos de aprendizagem :Organizar situações que favoreçam e estimulem o desenvolvimento cognitivo do aluno com deficiência intelectual;
Produzir materiais didáticos e pedagógicos, tendo em vista as necessidades desse aluno em sala de aula regular;
Utilizar recursos de baixa e alta tecnologia, selecionar e produzir materiais;
Interagir com o professor da sala comum para obtenção de informações relevantes, como frequência, permanência e participação;
                                           Avaliação dos processos de aprendizagem
Estudo de caso: visa construir um perfil do aluno que possibilite elaborar um plano de intervenção do AEE;
O estudo de caso se faz através de uma metodologia de resolução de problema, que identifica sua natureza e busca uma solução;
Deve ser construído pelo professor do AEE em colaboração com o professor da sala regular e outros profissionais que trabalham com esse aluno na escola;

Família: Obtenção de informações a respeito do aluno, seu desempenho nas atividades domiciliares, seu comportamento em casa, comunicação e interação com os familiares, atitudes de dependência e autonomia, super-proteção ou abandono;                  
                                                                    Avaliação
Deve alcançar os três ambientes principais do aluno:
Sala de Recursos Multifuncionais: Aspectos motores, expressão oral e escrita, raciocínio lógico-matemático, funcionamento cognitivo, afetividade (comportamento e interação), e a relação que o aluno estabelece com o saber;
Sala de Aula comum: A relação do aluno com o conhecimento, se ele manifesta dependência ou autonomia, se há a necessidade de recursos, equipamentos e materiais para acessibilidade;

Professoras de AEE
Cristiane Soares Carneiro Mendes
Rita de Cássia Cláudio Rodrigues
CMES Edmilson Pinheiro - SER V
EMEIF Francisco Silva Cavalcante – SER I

 Referências
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: o conceito.Revista.com,mar/2012.
Disponível em<http:www.revistapontocom.org.br/artigos/deficiencia-intelectual-o-conceito>.Acesso:16 de setembro de 2012.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. MEC. SEESP. O atendimento educacional especializado para alunos com deficiência intelectual. Brasília , 2010.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Procedimento de Cunho Pedagógico

  
                                     PROCEDIMENTOS DE CUNHO PEDAGÓGICO

O trabalho de cunho pedagógico com o aluno surdo torna-se produtivo quando o profissional acredita em suas potencialidades, pois quando visa-se a surdez e não o aluno o trabalho passa a ser um fator limitador das condições de aprendizagem e desenvolvimento das pessoas surdas, desta forma, se ao contrário, tenho um posicionamento pautado na compreensão do outro, de suas potencialidades e compreendo a surdez enquanto uma característica peculiar de uma pessoa que não a impede de ser, de viver em sociedade, de estar envolvida com a comunidade em todas as suas atividades, tenho uma forma diferente de planejar minhas atividades pedagógicas a serem realizadas com este grupo.
Sabe-se que não se pode mudar uma concepção tão enraizada de exclusão da sociedade em pouco tempo, para isto os surdos assim como as demais pessoas com deficiências sempre estiveram as margem da sociedade e com isto procuram adaptar os seus comportamentos sociais e aceitáveis ao grupo,procurando moldá-los,oralizá-los.
Segundo a concepção clínico- terapêutica a preocupação central, expressa em
objetivos e as ações educacionais, precisa estar na busca pela correção de um
defeito” biológico presente na pessoa surda, ou seja, buscar/ criar mecanismos para
que a surdez seja superada. Este movimento retira o foco das questões pertinentes ao
campo educacional para o campo clínico, do tratamento da surdez, que é entendida
como uma doença que precisa ser medicada e curada. Esse processo minimiza os
aspectos relativos ao educar a pessoa surda em todos os seus aspectos cognitivos,
afetivos, emocionais e sociais.
Para que o aluno surdo assim como qualquer outro aluno,tenha êxito na escola faz-se necessário a viabilização de suas necessidades básicas e adaptações necessárias, contudo ressaltamos a função do AEE de acordo a Resolução de 04 de Outubro de 2009 no Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado:
I – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de
acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da Educação Especial;
II – elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado, avaliando a
funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade;
III – organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos
multifuncionais;
IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de
acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola;
V – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de estratégias e na
disponibilização de recursos de acessibilidade;
VI – orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade
utilizados pelo aluno;
VII ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais
dos alunos, promovendo autonomia e participação;
VIII – estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à
disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares.
Art. 14. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.( Cesar Callegari)
Para concluir vale ressaltar que percebemos que mediante a tantas Leis,artigos e decretos os quais garantem os direitos à pessoa surda assim como outras deficiências não estamos  verdadeiramente prontos à inclusão, muito  deve ainda ser feito,mas devemos ter a concepção de que não é o aluno que deve se adequar à escola, e sim a escola a ele,desta forma procuramos minimizar os insucessos enfrentados por cada um, dando todo  os suportes de acessibilidades tendo em vista as nossas estruturas e  práticas pedagógicas, assim como possibilitar a participação do mesmo em todo o contexto escolar,através do trabalho em conjunto  com professores, intérpretes e toda a comunidade escolar priorizando a participação plena do aluno junto a seus pares educativos de forma independente e autônoma. Partimos do princípio, como professor de Atendimento Educacional Especializado – AEE, que temos a atribuição de identificar os obstáculos que impedem ou limitam o aluno de participar e de se desafiar para alcançar os objetivos educacionais propostos pela escola e, por fim, construir as condições necessárias para a superação destes obstáculos. Esta não é uma pretensão,poderemos vencer os desafios da inclusão através dos conhecimentos adequado e parcerias complementares,pois não se pode desenvolver um trabalho com êxito apenas com a boa vontade.
Garantir as condições de acessibilidade é uma parte importante do processo de inclusão dos alunos surdos e com outras deficiências e, neste empenho, estarão envolvidos o próprio aluno, seus familiares, os gestores das redes de educação, os gestores e professores da escola comum, além de outros profissionais que poderão contribuir com informações, conhecimentos e experiências que venham subsidiar e qualificar o atendimento ao aluno.
Devemos destacar também que o AEE tem por atribuição a Educação para a Autonomia e isto significa muito mais do que dar acesso e ajudar o aluno surdo ou com outras deficiências a desempenhar de forma mais independente possível as várias tarefas do cotidiano escolar.
Podemos dizer que a autonomia diz respeito a gerenciar a própria vida. A autonomia nos faz tomar decisões para nós mesmos, sempre lembrando que estamos em relação com os outros durante nosso percurso como seres em constante evolução.
Referências Bibliográficas:
Vitor da Fonseca;
Maria Teresa Égler Montoan;
Figuriredo;



ATIVIDADE DE NATUREZA COMPLEMENTAR E SUPLEMENTAR


                    ATIVIDADE DE NATUREZA COMPLEMENTAR E SUPLEMENTAR


O Ministério da Educação em acordo a Resolução Nº 4,de 2 de Outubro de 2009 institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica na modalidade da Educação Especial.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação,
no uso de suas atribuições legais, de conformidade com o disposto na alínea “c” do artigo 9º
da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131/1995, bem como no artigo 90, no
§ 1º do artigo 8º e no § 1º do artigo 9º da Lei nº 9.394/1996, considerando a Constituição
Federal de 1988; a Lei nº 10.098/2000; a Lei nº 10.436/2002; a Lei nº 11.494/2007; o Decreto
nº 3.956/2001; o Decreto nº 5.296/2004; o Decreto nº 5.626/2005; o Decreto nº 6.253/2007; o
Decreto nº 6.571/2008; e o Decreto Legislativo nº 186/2008, e com fundamento no Parecer
CNE/CEB nº 13/2009, homologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da
Educação, publicado no DOU de 24 de setembro de 2009, resolve:
Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os sistemas de ensino devem
matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento
Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em
centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições
comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.
Art. 2º O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno
por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que
eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.
Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, consideram-se recursos de acessibilidade
na educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com
deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e
pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços.
As pessoas com necessidades educacionais especiais têm assegurado pela Constituição Federal de 1988, o direito à educação (escolarização) realizada em classes comuns e ao atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à escolarização, que deve ser realizado preferencialmente em salas de recursos na escola onde estejam matriculados, em outra escola, ou em centros de atendimento educacional especializado. Esse direito também está assegurado na LDBEN – Lei nº. 9.394/96, no parecer do CNE/CEB nº. 17/01, na Resolução CNE/CEB nº. 2, de 11 de setembro de 2001, na lei nº. 10.436/02 e no Decreto nº. 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
O Atendimento Educacional Especializado é uma forma de garantir que sejam reconhecidas e atendidas as particularidades de cada aluno com Necessidades Educativas Especiais. Este pode ser em uma Sala de Recursos Multifuncionais, ou seja, um espaço organizado com materiais didáticos, pedagógicos, equipamentos e profissionais com formação para o atendimento às necessidades educacionais especiais, projetadas para oferecer suporte necessário às necessidades educacionais especiais dos alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento. Esse atendimento deverá ser paralelo ao horário das classes comuns. Uma mesma sala de recursos, conforme cronograma e horários pode atender alunos com, altas habilidades/superdotação, dislexia, hiperatividade, déficit de atenção ou outras necessidades educacionais especiais.
...uma nova gestão dos sistemas educacionais prevê a prioridade de ações de ampliação do acesso à Educação Infantil, o desenvolvimento de programas para professores a adequação arquitetônica dos prédios escolares para a acessibilidade. Preconiza também a organização de recursos técnicos e de serviços que promovam a acessibilidade pedagógica e nas comunicações aos alunos com necessidades educacionais especiais em todos os níveis, etapas e modalidades da educação. ( ALVES, 2006, p. 11)
Excelente artigo retirado do Blog da Professora Fernanda Azevedo Gomes. Seu Blog é http://educadoraespecial.blogspot.com

Conversa Sobre o AEE

        

                      Universidade Federal de Uberlândia – UFU
                     Centro de Educação a Distância – CE a D/UFU
Centro de Ensino,Pesquisa,Extensão e Atendimento em Educação Especial
-CEPAE/UFU

Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado para Alunos Surdos

Tutora: Daniela Reis

Cursista: Rita de Cássia Cláudio Rodrigues

Unidade: III

Turma: Turma 43

Data: 03/06/2012

Conceito de Surdez

 
                                                         Concepções de Surdez
Pelo que pudemos perceber com as leituras e as discussões realizadas até agora, as diferenças existentes entre os conceitos de surdez estão na forma como nos relacionamos com essa deficiência.
O primeiro texto trabalha com conceitos de natureza clínica e biológica e trata a surdez na sua manifestação física, mais precisamente sensorial. Sabemos que é importante termos as informações clínicas, patológicas, mas essas informações não serão tão valiosas para atuarmos frente as inadaptações do aluno surdo à escola.
Esses conhecimentos servem para podermos pensar a prática pedagógica de uma forma que atenda melhor a clientela para a qual trabalhamos, que são os alunos surdos. Ora, precisamos entender que mesmo a surdez leve e unilateral precisa ser considerada e as necessidades diárias dos alunos frente às dificuldades de aprendizagem em função da ausência da audição precisam ser cuidadas para criarmos estratégias que favoreças a participação do aluno surda à sala de aula comum e assim reforçar a sua aprendizagem de forma plena através da minimização de seus insucessos.
Segundo os textos estudados percebe-se que os Estudos Surdos se lançam na luta contra a interpretação da surdez como deficiência, contra a visão da pessoa surda enquanto indivíduo deficiente, doente e sofredor, e, contra a definição da surdez enquanto experiência de uma falta. O mais importante não é frisar a atenção sobre a falta/deficiência da audição - os surdos se definem de forma cultural e lingüística (Wrigley, 1996, p. 12).
Ainda de acordo ao texto vivenciamos um momento de redefinição deste conceito (Behares, 2000?, p. 1). Historicamente se sabe que a tradição médico-terapêutica influenciou a definição da surdez a partir do déficit auditivo e da classificação da surdez (leve, profunda, congênita, pré-lingüística, etc.), mas deixou de incluir a experiência da surdez e de considerar os contextos psicossociais e culturais nos quais a pessoa surda se desenvolve; é justamente destes aspectos, dentre outros, que os Estudos Surdos passam a se ocupar.
O termo “surdo” é definido pelas pessoas que não ouvem referem-se a si mesmos e a seus pares, ou seja uma pessoa surda que vivencia um déficit de audição que o impede de adquirir, de maneira natural, a língua oral/auditiva usada pela comunidade e que constrói sua identidade baseada principalmente nesta diferença, utilizando-se de estratégias cognitivas e de manifestações comportamentais e culturais diferentes da maioria ouvintes.
Nos estudos Surdos não se utiliza a expressão “deficiente auditivo” numa tentativa de re-situar o conceito de surdez, visto que esta expressão é a utilizada, com preferência, no contexto médico-clínico, enquanto que o termo “surdo” está mais afeito ao marco sócio-cultural da surdez. Nestes Estudos se enfatiza a diferença, e não a deficiência, porque “cremos que é nela que se baseia a essência psicossocial da surdez: ele (o surdo) não é diferente unicamente porque não ouve, mas porque desenvolve potencialidades psicoculturais diferentes das dos ouvintes” ((Behares, 2000?, p. 2). Ora, a distinção entre surdos e ouvintes envolve mais que uma questão de audiologia, é uma questão de significado: os conflitos e diferenças que surgem referem-se a formas de ser.
É notório que para o ouvinte, a surdez representa perda de comunicação, exclusão, banimento, solidão, isolamento. Para os surdos a explicação é totalmente diferente: alegar uma surdez de nascença significa não estar “contaminado” pelo mundo dos ouvintes e suas limitações epistemológicas de som seqüencial” (1996, p. 39).
Wrigley traz uma figura interessante quando diz: “a surdez é um ‘país’ sem um ‘lugar próprio’. É uma cidadania sem uma origem geográfica” (1996, p. 12).
As pessoas surdas são vistas como um grupo físico diferente, isto é, como se fosse uma raça diferente, ou seja, elas se tornam racializadas através da língua – de sinais – diferente aos demais de seu contexto social.

Concepções sobre Surdez


As Concepções sobre a Surdez
Lázara Cristina
Dalvani Ferreira
Elisabeth Figueiredo
Paulo Sérgio de Jesus
A surdez sempre fez parte de todas as comunidades etnográficas e culturais.
No entanto, as necessidades das pessoas surdas, em geral, não são percebidas pelos
ouvintes, talvez isto aconteça pelo fato da surdez não ser algo que os incomodem
diretamente como a marginalidade e a violência. Neste contexto, a pessoa surda e
suas demandas acabam sendo ignoradas.
Ao longo dos anos a concepção sobre a surdez foi sendo construída dentro
desta indiferença, surgindo assim inúmeros equívocos em relação ao surdo, a surdez
e a sua educação. As dificuldades no tocante à educação das pessoas surdas
encontram suas raízes no fato de esta encontrar-se aliada aos parâmetros da
educação especial, que esteve ao longo da história aliada à filantropia. Neste sentido,
enquanto a educação em geral é vista como um direito e um dever do estado para
com o cidadão, a educação especial era entendida como um “favor”, uma caridade a
ser desempenhada por pessoas de bom coração e que praticavam a benevolência.
Neste contexto, a preocupação estava vinculada ao cuidar, ao amparar e ao
oferecer condições para sua reabilitação física e intelectual. Desta forma, o fato da
educação de surdos ter estado a mercê de entidades filantrópicas destituiu o seu
caráter institucional legal e formal subordinando-a a outros campos extra-
escolares.
No conjunto esta situação contribuiu para a escassez de pesquisas que pudessem
gerar o desenvolvimento de políticas educacionais para essa área.
Assim, nesta perspectiva, grande parte das construções históricas sobre
surdez acabou desencadeando uma relação entre sociedade e surdez extremamente
prejudicial ao surdo, em que este é encarado como ser doente, incapacitado que
precisa ser reabilitado auditivamente e oralmente para sua inserção social e
educacional. Neste campo, a educação também tem contribuído com essa situação,
uma vez que, durante séculos manteve os surdos subordinados aos ouvintes, numa
postura ouvintista. O Ouvintismo1, institucionalizado através do oralismo contribuiu de
forma significativa para as percepções equivocadas e limitadas a cerca dos surdos e
da surdez.
De modo geral, percebe-se que as pessoas não se envolvem em um diálogo
mais profundo com os surdos, emitem apenas sinais convencionais de cumprir as
normas sociais de boas maneiras. Assim, passam perto, acenam com a mão, fazem
1 Segundo Skliar, ouvintismo são todas as representações dos ouvintes sobre a surdez e sobre os surdos.
um sinal de “jóia” com o polegar e continuam seu caminho com a sensação do dever
cumprido e o surdo continua à margem da sociedade e da cultura ouvinte, sem
compreender, muitas vezes, os acontecimentos à sua volta. Esta postura mediante à
surdez é fruto de uma corrente de pensamento que respalda as relações sociais, na
qual a pessoa surda não é respeitada enquanto pessoa possuidora de traços culturais
peculiares e, como tal, com identidade própria e diferente das identidades dos
ouvintes.
Essa corrente de pensamento interfere diretamente, também, na formação das
identidades próprias dos surdos, que imersos nas “armadilhas” do ouvintismo perdem
suas características e não se constituem enquanto sujeitos surdos.
A história retrata toda essa construção de como as pessoas com
características biológicas e/ou mentais diferentes da maioria (ouvintes), eram tratadas
perante a sociedade. Os surdos como os demais sempre estiveram à margem da
sociedade. Assim, era necessário ensiná-los a falar, adaptá-los aos comportamentos
sociais aceitáveis no grupo, moldá-los segundo as necessidades de cada época para
que estes, aos poucos, fossem sendo aceitos no grupo e respeitados como pessoas.
A preocupação com a educação dos surdos surgiu a partir da necessidade das
famílias nobres em manter sua riqueza, pois o direito à herança era legalmente do filho
primogênito. Caso esse fosse surdo, só poderia recebê-la se possuísse condições de
comunicar-se com seu grupo. Daí, algumas pessoas começaram a criar metodologias
diferenciadas e estritamente sigilosas, com o objetivo específico de ensiná-los a falar.
O fato dessas metodologias não terem sido divulgadas e/ou registradas dificulta o
entendimento de como essa prática de educação perdura até os dias atuais. Desta
forma, o primeiro objetivo da educação das pessoas surdas esteve vinculado à
aprendizagem da fala, sendo a sua aquisição condição sine qua non para a assunção
de seus direitos civis enquanto cidadão.
Esses objetivos foram expressos através de uma concepção de educação do
surdo pautada pela abordagem clínico-terapêutica que aliada ao oralismo, como
corrente filosófica, lhe deu suporte para sua estruturação e desenvolvimento. Esta
concepção de surdez e educação esteve e ainda se encontra presente na história
deste grupo de pessoas em diferentes países.
Segundo a concepção clínico-terapêutica a preocupação central, expressa em
objetivos e as ações educacionais, precisa estar na busca pela correção de um
defeito” biológico presente na pessoa surda, ou seja, buscar/ criar mecanismos para
que a surdez seja superada. Este movimento retira o foco das questões pertinentes ao
campo educacional para o campo clínico, do tratamento da surdez, que é entendida
como uma doença que precisa ser medicada e curada. Esse processo minimiza os
aspectos relativos ao educar a pessoa surda em todos os seus aspectos cognitivos,
afetivos, emocionais e sociais. Neste movimento, em que se promove a supremacia
dos interesses clínicos em detrimento dos educacionais, surge nos contextos
educacionais a presença hegemônica dos conceitos de surdez que a vinculam a uma
questão de ordem médica, clínica, em detrimento de um entendimento do sujeito e
suas necessidades educacionais. Esta realidade,
(...) fez predominar uma abordagem clínico-terapêutica dentro dos
projetos educacionais. A escola, dessa forma, para além do espaço
pedagógico, se apresenta enquanto proposta clínica de atendimento
aos alunos surdos (KLEIN, 1998, p. 77).
Assim, a escola, enquanto espaço educacional das pessoas surdas,
respaldadas nessa abordagem assume um compromisso claro com todas as
ações reabilitadoras, em que o aprender a falar é primordial ao
desenvolvimento educacional e pessoal do surdo. Desta forma, ampliam-se os
conhecimentos científicos e tecnológicos acerca do aparelho auditivo, de
criação de próteses auditivas cada vez mais sofisticadas, buscando a
normatização do surdo. Nessa tendência os surdos são vistos como deficientes
e incapazes de crescerem sozinhos enquanto comunidade estando, portanto,
sempre dependentes dos ouvintes (Cf. SKLIAR,1998).
Nesta perspectiva, quando dectada a surdez nos exames médicos de
rotina e/ou situações familiares em uma criança, ela é encaminhada
imediatamente aos especialistas da área, como se a mesma fosse doente e
precisasse de um tratamento médico e curativo. Nesta realidade o parecer do
otorrinolaringologista torna-se mais importante2 que as orientações
pedagógicas e/ou aquelas das comunidades surdas.
Assim, a criança desde cedo, passa a ter muitos compromissos diários
com especialistas buscando corrigir o seu “problema”. As visitas aos
fonoaudiólogos tornam-se constantes e cansativas, tomando a maior parte do
seu tempo disponível, passando assim, a não ter tempo para se dedicar à
educação escolar e, mesmo ser criança. Estas atividades, porém, são
destinadas apenas à aprendizagem da fala e a atender às expectativas dos
pais, que com a descoberta da surdez sentem-se confusos, sem saber que
atitudes tomar com seu filho “diferente”. Esta situação apesar de não garantir
2 Não desprezamos o valor do parecer deste profissional da saúde, o que questionamos e sua prevalência
em detrimentos de outras formas de encaminhamentos para a rotina familiar e social dessa criança.
uma qualidade de vida melhor para a criança surda, torna -se a salvação para
os pais. Esse modelo de educação encontra respaldo em uma
pedagogia ortopédica, onde, muito mais que educar, se pretende
corrigir. Práticas voltadas a fazer falar, a se adaptar ao uso de um
aparelho auditivo, são exemplos de reabilitação que se estendem para
além do espaço da escola e chegam até os locais de trabalho.
(SANCHEZ, 1990 apud. KLEIN, 1998, p.77).
Atualmente existe uma preocupação em se descobrir a surdez o mais cedo
possível para que, em conformidade com o discurso clínico, busque medidas que
solucione o “problema” rapidamente, de forma que a criança se habitue precocemente
com a prótese, e possa assim, ser treinada a falar o mais cedo possível. Exemplo
disso, são as intenções em tornar obrigatório os serviços públicos de saúde a
realizarem nas crianças recém nascidas o chamado “teste da orelhinha”3.
Essa visão clínico-terapêutica se restringe a considerar a surdez apenas como
um problema biológico, não envolvendo sua dimensão mais ampla ligada aos fatores
sócio-culturais. Dessa forma, os surdos não são percebidos como sujeitos capazes de
resistir e constituir-se como grupo possuidor de uma cultura com traços próprios,
impedindo-os de atuar efetivamente estabelecendo condições para o exercício de sua
cidadania. .Assim,
Os surdos, quando não representados como sujeitos culturais, entram
no rol dos desajustados, desintegrados da sociedade ouvinte,
deficientes e incapazes de se desenvolverem sem o auxílio de grupos
dominantes culturalmente (LOPES, 114, p.1998).
Essa corrente de pensamento reforça a relação de poder que se estabelece
entre o ouvinte e o surdo, denominada por Skliar de ouvintismo, o que representa mais
do que a imposição da língua oral, mas condiciona a sua inserção à sociedade dos
ouvintes à aquisição de valores culturais e sociais próprios dessa cultura, ignorando a
existência de uma comunidade que possui identidade própria.
Contrapondo essa abordagem apresenta-se a visão sócio-antropológica, onde
o sujeito surdo não é visto como portador de deficiência, mas alguém diferente, no
sentido de não se enquadrar aos modelos impostos como normais.
Esta abordagem consegue aproveitar as habilidades compensatórias biológicas
desenvolvidas pelo próprio ser humano, uma vez que a deficiência não inibe o
desenvolvimento global, mas cria alternativas compensadoras que permitem
desencadear novos processos cerebrais.
3 Teste da orelhinha é um exame capaz de detectar em recém-nascidos há existência de perda auditiva.
Dentro dessa perspectiva a diferença se constituiu mais “(...) como uma
construção histórica e social, efeito de conflitos sociais, ancorada em práticas de
significação e de representações compartilhadas entre os surdos” (SKLIAR, 12,
p.1998).
Assim, não é possível perceber a comunidade surda como um grupo
homogêneo, mas enquanto sujeitos diferentes com identidades próprias e distintas
que integram, também, grupos com características diversas. Um olhar sobre a surdez
respaldado nesta abordagem possibilita uma compreensão mais conjuntural,
permitindo assim, uma análise que considere fatores específicos como etnia, gênero,
condições sociais, valores culturais como elementos indispensáveis à compreensão
das multifaces constituintes na formação dessas identidades e grupos.
A compreensão das comunidades surdas perpassa por uma leitura ampla da
sociedade em geral, uma vez que estas estão imersas neste todo, sofrendo suas
influências sociais, econômicas e culturais, as quais interferem diretamente na
construção de suas identidades individuais e de grupo. Por exemplo, quando
encontramos com um surdo pedindo, vendendo adesivos, balas, etc., apelando para a
sua “deficiência” como meio de sensibilizar as pessoas, isto é fruto de um contexto
geral, no qual se apresenta o fato de um desemprego estrutural, que atinge também o
surdo. Desta forma, ele não trabalha porque não quer, não é capacitado para o
mercado de trabalho, mas porque as condições de trabalho são limitadas para todos.
A compreensão do que vem a ser surdez interfere sobremaneira em todas as
práticas sociais e educacionais, dependendo do conceito que se tem, são atribuídos
significados e construído sentidos acerca dos contatos e/ou realidade desse grupo de
pessoas, do qual, muitas vezes não fazemos parte.
Discutindo o conceito de surdez, em um de seus textos, Skliar (1998, p.13) a
define como “uma diferença construída histórica e socialmente, efeito de conflitos
sociais, ancorada em práticas de significação e representações compartilhadas entre
os surdos”.
Nesta perspectiva a compreensão sobre surdez ultrapassa os limites do
biológico, para ser entendida de forma ampla, histórica e social, não a partir de uma
visão unidirecional, mas de uma visão que contemple olhares múltiplos sobre vários
aspectos, buscando uma compreensão capaz de representar, de forma mais
abrangente, os seus significados em diferentes momentos históricos e conjunturais.
Uma mudança de pensamento frente essa realidade inicia-se com a destituição
dos esteriótipos que envolvem o surdo, atribuindo-lhes características que não
condizem com a realidade. Isto se faz necessário para possibilitar aos surdos e
ouvintes uma ressignificação da surdez, garantindo-lhes a possibilidade de conquistar
espaços dentro da própria comunidade surda e da sociedade em geral.
A ressignificação da surdez, porém, precisa ultrapassar o nível das discussões
teóricas e alcançar novos limites, como contribuir com a elaboração de políticas
educacionais e profissionais mais efetivas às condições e necessidades específicas
dos surdos, tanto no âmbito da formação geral do cidadão quanto no da preparação
para sua inserção no mercado de trabalho. Estas conquistas precisam garantir uma
condição eqüitativa em todos os sentidos, ultrapassando um direito estabelecido com
base numa limitação biológica.
Essa visão encontra-se ainda no campo do teórico, uma vez que é necessário
um tempo considerável para que certas estruturas sejam abaladas para que outras
sejam apreendidas, mesmo que, em partes, na realidade concreta da vida das
pessoas.
BIBLIOGRAFIA
BOTELHO, Paula. Segredos e silêncios na educação dos surdos. Belo Horizonte:
Autêntica, 1998.
BOTELHO, Paula. Linguagem e letramento na educação dos surdos: ideologias e
práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma Gramática de Língua de Sinais. Rio de Janeiro - RJ:
Tempos Brasileiro. Departamento de Lingüística e Filosofia - UFRJ. 1995.
BUENO, José Geraldo. Educação Inclusiva e escolarização dos surdos. Revista
Integração. MEC/SEESP. Ano 13, n.23. 2001 P. 37-42
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA E LINHA DE AÇÃO sobre necessidades
educativas especiais. 2ª edição. Brasília: CORDE, 1997.
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